Sei lá, não julgo, ainda bem

Cresci na MPB de Elis e versos de Paulo na boca de Raul
Samba de Graça e moda de viola à Amador
Sei lá
Quanto mais envelheço
Menos me vejo na pessoa
Que eu achava que seria
Ainda bem
Mas você também vê o futuro repetir o passado
Não se envenene com sua raiva
Sugiro um suicídio na cultura não divulgada
O Berço, O Terno, a Tika
Uma overdose do cabo ao rabo
Não julgo, apenas experimento.

 

Porque voltamos (e voltaremos) ao Psicodália – 2016

Existe na vida a possibilidade de acreditar em estórias e torná-las reais. Nos primeiros acordes do show dos Replicantes no Psicodália 2016, gosto de pensar que os organizadores escolheram a dedo a banda como atração principal para a abertura do Festival neste ano. Aquele impacto necessário para você esquecer o que vivenciava há pouco no portão a fora. Refrões como “é mentira, é mentira”, “governo facista” e “eu quero uma festa punk” te convidam a esquecer os problemas e hipocrisias da vida moderna para entrar numa viagem ao tempo com harmonia, respeito e reflexão, com direito uma festa para todos.

A movimentação nos campings não para um minuto. Sempre alguém chega e encontra seu espaço para barracas. Local tem de sobra. No Camping Mutantes a organização era impecável, com separação de quadras com valas para, caso a chuva resolvesse aparecer como em 2015, houvesse um local para a água correr.

O dia virou. Desta vez o sol dá às caras com muita força, inclusive. Mas agora é hora do café e nossa cozinha precisa ser montada, com fogareiro, armário e mesa. Essa é a nossa opção, preparar a própria comida com os nossos equipamentos. Você também pode escolher utilizar uma das cozinhas comunitárias ou então o café no próprio refeitório a preços acessíveis. Bom dia!

Psicodalia 2016
A nossa escolha nesta edição
Nosso cantinho
Nosso cantinho

Psicodalia 2016 Psicodalia 2016 Psicodalia 2016 Psicodalia 2016 Psicodalia 2016 Psicodalia 2016 Psicodalia 2016

Das 6h às 13h o silêncio predomina no Psicodália, a não ser por um ou outro refrão compartilhado pelos caminhos entre as barracas, pelo clássico grito de “Wagneeerrr”, que diz a lenda do cara ter sumido e nunca mais aparecido (veja esse vídeo aqui de 2009, ainda em São Martinho-SC. Hoje o Festival acontece em Rio Negrinho, também em SC) ou então pelo som da Rádio Kombi.

É dia cheio. De aproveitar o festival à sua maneira: nadar no lago, praticar algum esporte como slackline, futebol de golzinho, participar das várias oficinas de arte e meio ambiente, fazer compra nas tendas, assistir às peças de teatro e aos filmes na tenda de cinema ou então pegar a trilha de 40 minutos e visitar a cachoeira para um banho renovador.

Dois palcos fazem parte do Festival: o do Sol funciona das 13h às 21h (e volta às atividades a partir das 3h com o nome de Palco dos Guerreiros) e o Lunar, com os principais shows das 21h às 3h. O esperado do sábado é Nação Zumbi.

Para quem já havia ido a um show deles avisa: prepare-se para a ‘pedrada’. Mas antes tínhamos uma tarde dividindo espaço próximo ao Palco do Sol para curtir Velho Hippie e A Banda Mais Bonita da Cidade. O gostoso do festival é isso: sentar, conversar, conhecer novas bandas e perceber o quanto o Sul do Brasil é forte na cena musical do rock.

Em 2015 tivemos grandes shows. Veja relato aqui. Muitos – se não a maioria – levam a pegada psicodélica/progressiva, como os setentistas Terreno Baldio, com uma apresentação impecável abrindo a noite do Palco Lunar. Neste ano, Nação Zumbi veio para valer a viagem de 10 horas de SP até a Fazenda Evaristo. Com as letras do eterno gênio Chico Science, nos faz relembrar de que precisamos buscar pela justiça, viver com respeito, independentemente da razão de cada um, e aproveitar cada momento com diversão. Detalhe: 3 sons no BIS, com direito a Praieira.

Diversão de sobra com o pessoal do “Francisco El Hombre”, banda com uma energia presente do começo ao fim no seu show no Palco dos Guerreiros. Os caras tocam um ao lado do outro um som, curiosamente definido pela Clara Caldeira neste excelente texto da Hypeness aqui.

Para fechar a noite com mais som, você pode continuar ainda pelo Palco dos Guerreiros ou se mandar para o Saloon, restaurante que vira espaço para dançar ao som de discotecagem com LP. E cada um, na sua!

Psicodalia 2016
A arte presente por todos os lados
Psicodalia 2016
A arte das oficinas
Psicodalia 2016
Mais arte, agora do grafitte

Psicodalia 2016

A arte inclusive em nossa barraca
A arte inclusive em nossa barraca
E até nos latões de lixo
E até nos latões de lixo
Psicodalia 2016
Mais um resultado de Oficina – de Compostagem

Psicodalia 2016

Psicodalia 2016
#:-S
Pelo Psicodália, escolha o seu caminho
Pelo Psicodália, escolha o seu caminho
Caminhando por aí
Caminhando por aí
Psicodalia 2016
Várias lojinhas, inclusive a Hype Brasil com umas camisas bem legais
Psicodalia 2016
A área de alimentação e acesso ao Palco Livre
Rola uma mercearia para necessidades básicas
Rola uma mercearia para necessidades básicas
Psicodalia 2016
A tarde ao lado do Palco do Sol

Psicodalia 2016

Psicodalia 2016
Espaço para todos se expressarem
Psicodalia 2016
Não dá nem para acreditar os “vôos”

Psicodalia 2016

A caminhada vale a pena
A caminhada vale a pena

Psicodalia 2016

Psicodalia 2016
Liberdade

Psicodalia 2016 Psicodalia 2016

Psicodalia 2016 - Terreno Baldio (5)
Terreno Baldio

Psicodalia 2016 - Terreno Baldio (6) Psicodalia 2016 - Terreno Baldio (7) Psicodalia 2016 - Terreno Baldio (1)

Nação Zumbi
Nação Zumbi

Psicodalia 2016 - Nacao Zumbi (8) Psicodalia 2016 - Nacao Zumbi (6) Psicodalia 2016 - Nacao Zumbi (9) Psicodalia 2016 - Nacao Zumbi (5)Vinil de Respeito

Fomos surpreendidos por uma vasta coleção de vinil. Era uma das oficinas. Você ia até um local e trocava ideia com o ? (porque não perguntamos o nome do cara?!). Lá, ficava rolando o som e você conversava sobre os discos, seja a capa, a gravação, o estúdio, as participações especiais, enfim, era “só” isso a oficina. E a graça está nisso. Das situações que parecem ser mais simples, são as que te surpreendem em cada etapa. Eu, por exemplo, conheci a cantora “Cláudia”, com seu som groove e voz forte. Já estou em busca para a aquisição do LP “Pássaro Emigrante”.

Houveram outros momentos de oficina como a de aquarela e também a sessão de cinema de Charles Chaplin acompanhada por um pianista ao vivo. Sensacional a sincronia deste cara tocando sobre um gramado.

Voltando ao LP, conhecemos o disco Blindagem, deste grupo curitibano surgido no final dos anos 70 que, por coincidência, tocaria naquele dia abrindo o Palco Lunar às 19h. Aliás, os caras também tocaram no antológico Festival de Águas Claras. (o Terreno Baldio também se apresentou neste importante festival, que poderia ter uma nova edição!?)

Mas a noite estava reservada para esses vovôs do rock and roll, Steppenwolf. Um show bom, equilibrado, sem grandes surpresas e empolgações da galera. E, claro, com o hino das estradas “Born to be Wild”.

Violetas de Outono
Violetas de Outono

Psicodalia 2016 - Violetas de Outono (2) Psicodalia 2016 - Violetas de Outono (3)

Antes dos shows da noite, uma passada na tenda de Cinema, ao som ao vivo de piano
Antes dos shows da noite, uma passada na tenda de Cinema, ao som ao vivo de piano
As artes oficiais ao lado do Palco Lunar
A arte oficial ao lado do Palco Lunar

Uma pequena seleção de algumas imagens nossas na noite (permitidas)

Uma pequena seleção de imagens das nossas noites (permitidas)

Psicodália 2016 Psicodália 2016 Psicodália 2016 Psicodália 2016 Psicodália 2016 Psicodália 2016

Muito prazer, Steppenwolf
Muito prazer, Steppenwolf

Psicodalia 2016 - Sttepenwolf (3) Psicodalia 2016 - Sttepenwolf (8) Psicodalia 2016 - Sttepenwolf (6) Psicodalia 2016 - Sttepenwolf (4) Psicodalia 2016 - Sttepenwolf (11)

Como explicar

A segunda-feira amanheceu calma. E o que se ouvia em um canto e em outro, aumentou a intensidade. Grupos de amigos tocando suas músicas entre as barracas. A trilha sonora dos campings com sua animação particular reflete o espírito deste festival, de livre acesso, respeito mútuo, alegria constante e energia compartilhada.

O que dizer de energia em um dia que teríamos o show de Elza Soares que, com quase 80 anos, lança um disco de rock, politizado, e se encaixando perfeitamente à proposta do Psicodália. Então como explicar a amigos que você foi a um show da Elza Soares e considerou um dos melhores de rock que viu nos últimos tempos?!

Elza fez (re) surgir aquela vontade de viver e lutar pela igualdade, de fim das injustiças, na mesma temperatura que Nação Zumbi havia proclamado há dois dias, apenas sentada respaldada por uma excelente banda e um show performático.

Antes, a tarde, a expectativa era pelo show do O Berço, grupo de MG, que toca um rock folk com letras em português. Já havia ouvido antes e valeu a pena curtir a tarde ao som desses caras, simples, que após ao show, sentaram ao nosso lado, abriram uma maleta para vender os CD´s como forma de garantir uma renda para a banda. E ainda compartilharam uma cachaça e algumas histórias. O interessante é que eles também vivenciaram o Psicodália, acamparam por lá.

E é bom lembrar do show dos cearenses do Cidadão Instigado, liderado pelo guitarrista Fernando Catatau.  Muito bom

Os músicos anônimos entre barracas
Os músicos anônimos entre barracas

Psicodalia 2016 Psicodalia 2016 Psicodalia 2016

Mais arte e momentos Psicodália
Mais arte e momentos Psicodália

Psicodalia 2016 Psicodalia 2016 Psicodalia 2016 Psicodalia 2016 Psicodalia 2016 Psicodalia 2016 Psicodalia 2016 Psicodalia 2016

O Berço
O Berço

Psicodalia 2016 - O Berço (2) Psicodalia 2016 - O Berço (3) Psicodalia 2016 - O Berço (4)

Cidadão Instigado
Cidadão Instigado

Psicodalia 2016 - Cidadao Instigado (2) Psicodalia 2016 - Cidadao Instigado (1) Psicodalia 2016 - Elza SOares (9) Psicodalia 2016 - Elza SOares (2) Psicodalia 2016 - Elza SOares (4) Psicodalia 2016 - Elza SOares (6)

 

Porque voltaremos

Por mim, o Psicodália aconteceria em Jundiaí-SP. A terça-feira acaba sendo aquele dia de despedida. É mais cansativo, afinal teremos 600km pela frente. Para esse tipo de público, como eu, acho que a organização poderia pensar em antecipar os horários de alguns shows.

Ficamos para ver Nana Vasconcelos, às 20h. “O cara” da percussão mundial fez valer a pena com um show energético. Ele convida a participar de quase todas músicas e cria melodia com instrumentos que talvez nunca tenha visto.

Corpo e mente em total sintonia e equilibrados é hora de pegar estrada e refletir sobre o porquê de não termos descoberto o Psicodália antes (o festival está em sua 19ª edição). Mas com a certeza de que voltaremos, quem sabe para shows como Jorge Mautner, Tutti Frutti, Caetano Veloso (tocando Transa) Made in Brazil, Tropicália, Bechior, Flaviola, Lula Cortes & Zé Ramalho (tocando Paêbirú), e de novo Ave Sangria, Tom Zé, Alceu Valença e Casa das Máquinas…e, quem sabe, os internacionais do Greatful Dead e ZZ TOP.

Psicodalia 2015

Em 2014 comecei a pesquisar uma viagem diferente para o próximo ano. Encontrei “Um lugar legal pra mim dançar e me escabelar. Tem que ter um som legal. Tem que ter gente legal e ter Cerveja barata”, a letra de Júpiter Maçã feita há muito tempo já parecia prever! E o lugar legal seria o Psicodalia, um festival que respira rock, arte e a vida.

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Juntar amigos na mesma pegada não foi difícil: Dú, Carlota, Gabi e Mariano abraçaram a causa comigo e o Rô. Saímos de Jundiaí e, após 10 horas de estrada, chegamos na Fazenda Evaristo, Rio Negrinho-SC.

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“A vida é feita de pedaços do céu, Hei man, pobre de que, não teve o seu”, e encontramos o nosso pedaço gramado pra montar a barraca, a trilha sonora, Ave Sangria no palco Lunar, começando às 23h, momento de nossa chegada. Depois de montar a barraca, curtimos o Bis e fomos descansar em êxtase. Mas ainda tínhamos que juntar a trupe, que chegaria por volta das 6h da manhã e, com uma sintonia permitida apenas para poucos e em poucos locais, nos encontraram em meio a tantas outras barracas sob chuva!

Se você gosta de música, tá no lugar certo. O som começa a rolar às 13h, seja na rádio Kombi, nas barracas e no Palco do Sol, no banheiro ou no restaurante. A música dita seu ritmo até começar os shows principais no palco Lunar. E para os fortes, o palco dos Guerreiros puxando o sol (no nosso caso ele não apareceu) e clareando o dia. Às 7h é hora do silêncio.

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A fazenda é linda, muito verde e bem estruturada. Banheiros separados para os números 1 e 2, chuveiros quentes espalhados por todos os campings. Apesar de que poderia dar uma ampliada nos chuveiros e a galera poderia se conscientizar e agilizar no banho. A moeda que vale é a Dália, um cartão trocado em guiches 1×1 com o Real, com dinheiro ou cartão de crédito.

“Vou descendo por todas as ruas e vou tomar aquele velho navio. Eu não preciso de muito dinheiro graças a Deus…” porque a galera comeu muito bem. O prato de macarrão à bolonhesa a R$ 8, assim como um generoso pedaço de pizza, o lanche a R$6, o chopp pilsen a R$6, chopp bucanera a R$8, a latinha de Brahma a R$4,20, água refil a R$0,80.

Se você não quiser desembolsar R$5 em um copo personalizado do Psicodália, leve o seu. Nada é servido em vidro ou copo descartável. Lá, cada um cuida do seu. Aliás, o lixo é separado entre orgânico e reciclado e dificilmente se via lixo no chão. A galera leva a sério o respeito com a natureza e a organização do festival mandou bem na equipe de limpeza.

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Choveu muito. Graças aos nossos amigos Gabriele e Mariano, nosso QG estava equipado com fogão, mesa e uma tenda. Curtimos muito nosso espaço porque a chuva não deu trégua. O meninos mandaram bem na “Tenda Truck”, com um rango sempre saindo no café da manhã e a tardezinha. Taí uma dica se você curte acampar com o mínimo de praticidade e conforto: leve fogão. E, no Psicodália, é permitido entrar com comida e bebidas. Dentro do festival é vendido gelo, o saco de 3k custava R$10 (caro!). Como a cidade fica só a 7km do sítio, muitos faziam comprar nos mercados locais, vale a pena.

Os shows são o auge do festival. Você percebe que não há uma correria para não perder determinado show aqui ou ali. O tempo passa mais devagar. Todos aproveitam ao seu modo, seja de frente ao palco, na barraca ou mandando um macarrão para dentro no refeitório.

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Delícia ver famílias com crianças pequenas, amigos, casais, jovens, velhos curtindo o verde, o lago, as músicas, oficinas, teatro e cinema. Tem de tudo, tem pra todos porque “louco é quem me diz, e não é feliz, não é feliz”.

Nem preciso dizer que fechamos com o grande Arnaldo Baptista, apesar de que é difícil falar essa palavra: “fechar”. Tudo ali foi e é um ciclo de vivência, reciclagem, experimentação, sensações, com uma trilha de anônimos, Jards, Orquestras, Joelhos, Babys, e você!

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